Aquelas irmãs que o P.e António Freire contou que vieram para a Póvoa a banhos acabaram por ser impedidas de regressar a Espanha, donde tinham vindo. Para ganharem o sustento, decidiram receber meninas para educar: foi o princípio da nova aventura.
Ouçamos de novo A. Silva Pereira, cuja narrativa é mais sintética que a do P.e Freire:
"É nesse ano, 1922, que surge novamente na Póvoa a Madre Sá, que, pelo seu Instituto, vem encarregada de fazer ressurgir, na sua terra, o “Colégio do Sagrado Coração de Jesus” (…) Consegue o dinamismo da Madre Sá instalar, embora provisoriamente, o Colégio num edifício da Rua da Igreja, pertencente ao Dr. Francisco de Sousa Machado, e do qual ela foi mestra-geral.
Mas, por grande que parecesse o edifício, não podia de uma maneira eficiente e condigna, albergar em si tantas e tantas alunas que, em regime de internato, procuravam o “Colégio do Sagrado Coração de Jesus”.
A actividade da Madre Sá, desde então se começou movimentando no sentido de ser construído um novo edifício para o Colégio, o que foi secundado e vivamente aplaudido por todas as pessoas e pelas próprias autoridades da terra. E em 1928, lançou a Madre Sá mãos à obra, que viu concluída em 1930".
A Voz do Crente, em 24 de Outubro de 1930, anuncia o começo do funcionamento do Colégio, o definitivo:
"Já principiou a funcionar na nova casa, sita no lugar da Moita, o Colégio do Sagrado Coração de Jesus, habilmente dirigido pelas religiosas de Santa Doroteia. É grande a sua frequência, porque as alunas recebem ali não só uma grande educação literária e artística, mas também uma sólida educação moral.
O novo edifício, colocado num dos pontos mais salubres da vila, tem amplos dormitórios, boas salas de estudo e de trabalho, magnífico recreio e uma linda capela. É uma das casas mais higiénicas da vila por estar fortemente ventilada por todos os lados e por ser fortemente banhado pelo sol desde manhã até à noite. As famílias das alunas que a visitaram pela primeira vez ficaram surpreendidas pela sua amplidão e magníficas condições higiénicas. É de esperar que aumente a sua frequência, porque casa é maior e oferece mais comodidades que a antiga, e o seu corpo docente é muito selecto e apto para ministrar às suas alunas os bons ensinamentos que a tornem excelentes senhoras e boas cristãs".
Mais adiante, a Madre Sá, foi transferida «para Coimbra e de lá para o Colégio da Imaculada Conceição de Viseu. Mas a Póvoa esperava por ela..."
Em Setembro de 1946, por ocasião das suas bodas de oiro em religião, os habitantes da Póvoa de Varzim quiseram mostrar a estima e gratidão que por ela sentiam.
Depois disso, ficou a Madre Sá a residir no seu Colégio até ao resto da vida, onde faleceu a 20 de Outubro de 1960.
As Florinhas do Mar
Quase não consegui informação sobre "As Florinhas do Mar". Ficam aqui as breves frases que encontrei sobre esta iniciativa educativa da Madre Sá e que no-la mostra verdadeiramente integrada no espírito evangélico, colocada ao lado dos menos favorecidos, enquanto o Colégio poderia sugerir apenas interesse pelos mais beneficiados da fortuna:
”'As Florinhas do Mar', essas filhas da gente pobre da nossa terra que o Colégio do Sagrado Coração de Jesus educa, alimenta e veste, é uma outra obra do seu grande coração" (A. Silva Pereira).
"Nunca recebia a simples homenagem das "Florinhas do Mar" (escolares que ela patrocinava, pertencentes ao mundo piscatório das Caxinas e da Póvoa inteira), sem que eu lhe notasse sinais de emoção profunda. Recordo uma jovem alta, com uma trança loira solta nas costas, e que apareceu carregada de luto, um dia. Um naufrágio ou uma doença tinha-lhe levado o pai. Era no Inverno, a jovem trazia um xaile grosso que lhe enredava o cabelo. A Madre Sá compôs-lhe a trança e a beira do xaile, para que a menina estivesse mais confortável; e eu vi como chorava, à sua maneira interior, como quem reza. Abençoava a mulher, sofrendo-lhe o desamparo" (Agustina Bessa-Luís).
Segundo o Mons. Manuel Amorim, a Madre Sá partilhava com o Dr. Abílio Garcia de Carvalho esse cuidado com crianças pobres.
Na Póvoa há dois monumentos ao Sagrado Coração de Jesus, o Colégio e a Basílica; ambos grandiosos e ambos frutos de muita tenacidade, suor e dor.
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Pequeno apêndice
A Madre Sá pede audiência a Afonso Costa
"Este regime (republicano) extinguiu as ordens religiosas, tendo conseguido a Madre Sá, com a sua tenacidade e perseverança de remar contra a maré, manter as Casas do Sardão e de Vila do Conde (Colégio de S. José).
A casa da Póvoa (e portanto o Colégio) foi também expropriada e nela se instalou o Liceu e, depois do final de 1914, a nossa unidade militar. Mas a Madre Sá pleiteou com o Governo reivindicando a posse das casas que pertenceram à sua família, demanda que percorreu as três instâncias tendo até chegado a pedir audiência ao Dr. Afonso Costa, então Ministro da Justiça e dos Cultos, que a recebeu com certa deferência. Vencida a questão, o Governo não restituiu as casas mas deu-lhe uma indemnização simbólica em dinheiro que a Madre Sá entregou às suas Superioras, então emigradas no estrangeiro".
Jorge Barbosa
FERREIRA, Isabel, Madre Sá, Póvoa de Varzim, 1983.
FREIRE, António, A Madre Sá, uma Glória da Póvoa de Varzim, Braga, 1982.
PEREIRA, A. Silva, «O Colégio do Sagrado Coração de Jesus e a Reverenda Madre Júlia de Sá», Ideia Nova, 5/10/1946.
NÓVOA, António (dir.), Dicionário de Educadores Portugueses, Edições ASA, 2003.
Imagem: Edifício do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, obra devida à heróica determinação da Madre Sá.
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